Em uma escola com um currículo tradicional, a educação presta-se ao serviço de “ceifadeiras do saber”. Assim como as ceifadeiras, que atravessam campos onde plantas vistosas e grandes cresceram e as reduz a uma imensidão de terras onde apenas pedaços de plantas cortadas ficaram e das quais apenas foram aproveitados os grãos, cujo valor utilitário é tão grande quanto é pequeno seu tamanho em relação à planta original, as escolas pretendem passar pela vida dos alunos as reduzindo àquilo que é considerado útil e produtivo, àquilo que tem valor real de mercado.
As “podas” têm início no controle dos corpos, que não podem estar relaxados, mesmo os sentares são controlados, reduzidos às possibilidades de cadeiras padronizadas, assim também é a ocupação possível de espaços, onde filas tornam-se ferramentas de controle do que é possível aos corpos para se expressar.
O prazer da leitura, o prazer do fazer e do dizer é calado e quando as formas existentes de controle não bastam, recorre-se à ciência da medicina, que prontamente atende ao propósito de docilizar os corpos, ajudando a calar as vozes e os risos, a manter os silêncios.
Neste momento, em que tudo está quieto e nada além do esperado, programado, planejado acontece é quando as fontes de idéias estão secas, é quando as plantas estão podadas, quando apenas o pouco que interessa ao mercado foi colhido e o resto habilmente descartado.
Enquanto isso segundo a teoria crítica, como na história do Mágico de Oz, a escola pode ser uma estrada... a diferença é que esta não é feita de tijolos de ouro mas de informações, cada pedra como se fosse um livro ou uma tecla de computador que pode levar a um novo lugar.
Cabe à Dorothy, neste contexto, vestir-se de uma ideologia e imprimir sua marca identitária a partir da problematização do que está posto, questionando o status quo do “mágico” representado pelo capitalismo e meios de comunicação de massa.
A Dorothy política, une-se a outros estudantes e questiona, contesta, protesta. Essa postura permite a emergência de novas possibilidades de criação num ambiente em que culturas marginalizadas possam ganhar visibilidade em seus fazeres.
Não se busca uma volta pra casa, coragem, inteligência ou coração, mas o direito de transformar não-lugares em lugares onde se possa existir de forma emancipada, onde o direito de contestação seja garantido para que a problematização constante da realidade permita a desnaturalização do poder e uma vida mais livre e solidária.
Chegando ao final da estrada escolar, espera-se que Dorothy marque o “x” no local correto em cada pergunta que o sistema hegemônico lhe impõe, porém se emancipada e questionadora ela se recusará a falar “a língua” do sistema imposto, valendo-se de novos modos de se expressar e ser neste contexto.
PARA LER E PENSAR:
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.